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cantiga de amigo

de tão bonito o meu amigo,
qual a crueldade comigo!
não sabe o tanto que atordoa.

é tão bonito o meu amado,
de tamanha crueldade é culpado.
não sabe o tanto que atordoa.

qual a crueldade comigo!
queria tê-lo já conhecido.
não sabe o tanto que atordoa.

de tamanha crueldade é culpado.
por que ter me procurado?
não sabe o tanto que atordoa.

queria tê-lo já conhecido.
o que não foi não pode ter sido.
não sabe o tanto que atordoa.

por que ter me procurado?
aceito tudo de bom grado.
não sabe o tanto que atordoa.

david

crime bárbaro

muitas facas no peito dele.
muito veneno na bebida dele.
muitos murros no nariz dele.
muitas quedas do corpo dele.
muitos chutes no estômago dele.
muitas pedras na cabeça dele.
muitos carros em cima dele.
muitas quebras de ossos dele.
muitos cortes nos pulsos dele.
muitas balas na cabeça dele.
muitas cordas no pescoço dele.
muitas pílulas na boca dele.
muitas drogas no sangue dele.
muito aperto no coração dele.
muitas mentiras na vida dele.

david

nosso cersibon



david

depoimentos de ivan güardia para rita medusa

"meu anjinho desbotado.
meu sacrilégio de incorporações retalhadas:
rótulo de morangos silvestres e doces e ácidos e fervilhantes.

vou amar sua instabilidade até o fim dos arcos plúmbeos do silêncio.
vou reter sua língua na minha voz mental & sinestésica.
queimar calendários convulsivos no trópico de câncer.
esquecer o que não compõem ressurreição.

desamarrarei as artérias que nos levaram para baixo e tatearam algoritmos.
rinoscópios vulcânicos.
lentes da febre eterna.

desejarei sua pele transparente como quem experimentou e viciou os mecanismos, os remotos, as paisagens.
desejarei as descrições detalhadas dos casulos.
as gotas-violetas-peroladas num refrão de escassez.
os mapas ígneos da obsessão.
os preenchimentos intermitentes.


e é por isso que prendo nosso tempo com o tubo das maquetes íntimas, meu cordão umbilical.
e é por isso que jogo pedrinhas pluviais na janela da conseqüência e a agiganto.
e é por isso que restauro meus cílios tão desfigurados.
e perfumo as tranças da perplexidade.

ursos de malha ofegando através da costura dos nossos vestígios:
souvenirs fátuos no banquete da doação.
pólens de bruma.
ímãs da flacidez.

subo como a levitação da epilepsia por um orgasmo que afoga.
mastigando poentes & borboletas.
meus vasos sanguíneos diluem a pólvora dos degenerados.
enquanto assisto vislumbres turvos e me derramo, sob as vertigens de sua toga.


deixe que eu compartilhe suas asas. como quem não quer voltar. arrepios de veludo provando o imenso. trevos, caminhos, sentido. ordem de rupturas. alinhamento líquido das dilatações. vasos destruídos. medidas em órbita.

rasgo.

fundo.

coração."

david

angústia

tenho o coração apertado agora.

triste sem motivo aparente e com vontade de ouvir coisas em espanhol. língua forte e arrebatadora como a paixão que tive noutra cidade. curta como o tempo de queima de um cigarro, do qual ainda sinto o cheiro dos dedos e na roupa e ainda procuro a guimba perdida que me caiu da mão esquerda.

saudade do que nem cheguei a viver.

a procura de sentidos, a beleza complexa de um texto me comoveu. não fui eu quem o escreveu, talvez nem o poderia. você deve lê-lo no próximo post.

david

galinha!

eu estava voltando do brazuka quando dois manos estavam vindo na direção contrária, na parte mais escura da rua saint martin (eu, imbecil, que sempre faço o mesmo caminho, quis mudar logo hoje!). aí pensei: fudeu geral, tomei no cu. um deles falou: ow, mano! cê tem um cigarro aí pra nóis? daí eu: cigarro? ele: é, cê num tem? eu de novo (coração acelerando e eles chegando perto): é... cigarro! claro, tenho sim! chega aê! (realizando a teoria da aproximação social). tirei o maço do bolso e dei um cigarro pra cada um. enquanto fazia isso, o mesmo mano disse: ow, cê tá muito loco? eu: nada, tô de boa, véio... ele: acabamo de fumá uma pedra, tamo muito loco... o outro: é, pode crê! eu (num quase desespero, nenhuma pessoa viva na rua): vixe, eu tô de boa, meu irmão. eu, de novo (porquê desandei a falar): ow, vcs têm fogo aí? (quando muito rapidamente lembrei que eu, que oferecia o fogo, estava sem a merda do isqueiro pra fazer "amizade") ele, o falante: fogo eu num tenho não, tenho isqueiro. eu: ah, então de boa! ele: qué o isqueiro? eu: não não... vou fumar não valeu! (é, agradeci o mano) fui saindo. eles, graças aos cigarros (que um dia ainda podem me matar), ficaram satifeitos e foram embora também, pro outro lado. voei como nunca pensei que pudesse voar. suei, também como nunca antes tinha suado. me senti como uma galinha quando cheguei em casa.

david

l'avant-dernière coup

(il y a longtemps, mais maintenant c'est comme une résponse)

le samedi soir
j'étais seul
et je buvais de la vodka
dans ma chambre
où il y avait
seulement
des cigarettes mortes

david

no meu quarto

tem roupa minha por toda parte.

tá cheio de roupa que não é minha.
tá cheio de roupa de quem eu nem sei quem é.

david