chovendo no molhado.

eu quero toda a chuva para mim. não abro mão nem o guarda-chuva por causa de uma gota de água. não quero para lavar a alma muito menos roupa suja. eu quero cada pingo, respingo, e até menos que o pingo chovendo em mim. quero descer do carro no meio da avenida e deixar o guarda-chuva no porta-luvas. como quem espera pelo par desacompanhado, enquanto desesperado olha os outros guarda-chuvas abrindo em botões, riscando cores e valsas no céu.

 

quero meus cabelos desmontados e encharcados e alagados de um suor frio de inverno. quero meus lábios molhados senão por outros lábios que não os das nuvens. quero minha vida embaçando a janela e o tédio no final da tarde. deixem correr, deixem meu cavalinho na chuva, me deixem pegar uma friagem. quero a chuva toda para mim.

 

as roupas pesadas prendidas ao corpo, a alma escorrida no varal. um corpo só e somente meu, inundado de lágrimas que não são minhas, confundindo-se com mágoas que morrem afogadas no temporal. despenteando pensamentos, levando meu presente para o quintal do passado. não avanço uma poça longe daqui. deixo-me magoar, deixo-me molhar por suas palavras. as minhas mãos que bebiam do seu corpo, agora matam a sede na calçada.

 

vou fazer da minha felicidade solitária, minha tempestade no seu copo de água.

 

gustavo.

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  Anônimo

31 de jan. de 2009, 01:28:00

much more me.

é bom escrever coisas mais leves e menos rancorosas de evz em quando, faz bem pra alma e acalma o coração.
(mesmo que nao sejam verdades)

  Anônimo

31 de jan. de 2009, 01:34:00

Texto gostoso. Tão gostoso quanto chuva de fim de tarde. =)

  Anônimo

18 de fev. de 2009, 22:32:00

um momento de fraqueza? não, ele te atacaria com o guarda-chuva se pudesse te ver mais uma vez. e no final é justamente o contrário.