você é linda, mas não significa nada para mim.

nossos esforços não irão nos redimir do pior que está por vir. não importa ou se faz questão de quanto lutamos para isso dar certo. nada disso irá acontecer. o que podemos prometer a nós mesmos é que não olharemos para trás e ficaremos pensando, deitados em arrependimento e resignação, em que momento nossos dedos se desataram e escorreram por debaixo da mesa. não adianta mais pensar, no que poderia ter dado certo. o que não se pode negar quando nos afogarmos em orgulho para ficar emersos sobre as lágrimas, é que não vamos ousar. não vamos nos amar. não vamos querer ver mais um o outro. eu quero ir embora. e mesmo que ainda sob passos pesados eu queira algo constante sobre meus pés, não olharei para trás, não darei a volta. eu não posso garantir que você ficará bem, eu só posso me certificar que eu não ficarei mal. mesmo quando estiver deitado no chão da sala, dirigindo triste com os faróis apagados em devaneios sem volta, querendo aspirar cada golpe de brisa, cada beijo sem resposta, mesmo quando abrir a janela e debruçar-me sob cada sentimento enquanto espero a chuva - gosto de ver a chuva caindo abrindo os guarda-chuvas em botões na rua, porque quando caem as onomatopéias no telhado de zinco lá fora, sinto chover aqui dentro também – mesmo quando meus olhos forem apenas garrafas vazias e copos quebrados, mesmo quando minhas roupas ainda perpetuarem seu perfume, não me enterrarei em cova rasa, não velarei esperança. porque as velas que desenhavam nossas sombras no quarto escuro e riscavam movimentos contra a luz, já foram consumidas pelo calor da chama. e agora só resta vergonha e medo. nós que éramos íntimos da escuridão, que tateávamos encaixes à quatro mãos, conhecíamos cada presença, cada parte e peculiar intimidade, não conseguimos mais unir duas em um. não preciso de ajuda para limpar o chão ou juntar os cacos. se sempre estivemos aos pedaços, não queira juntar tudo agora. prove o resto, leve o resto. eu vou entrar perpétuo por debaixo das cobertas e manter naquele espaço que descobrira entre travesseiros e braços sua ausência. vou me envolver na presença no vazio, no colo da madrugada. e deixar que as paredes pintadas do quarto não me sufoquem com sua presença ainda fresca.

gustavo.

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